quarta-feira, 17 de março de 2021

Bolsonaro x Lula - A campanha se desenha

 

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) mudou de discurso, e de postura, desde que o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), lançou Lula à Presidência da República. Ele era convicto, com razão, de que o embate eleitoral 2022 seria um vareio diante de um nome qualquer do PT. Com Lula, são outros quinhentos, como diz nossa gente matuta. E é. Bolsonaro sabe disso, daí, a mudança de comportamento.

Ele mandou o Ministério da Saúde acelerar a compra de vacinas – serão 140 milhões distribuídas até maio, se o plano não falhar -, aumentar o número de leitos de UTI Covid em todo o País e formatar uma nova campanha em defesa da vida. Bolsonaro também passou a usar máscara em eventos públicos, algo que ele abominava até pouco tempo, e passou a esfregar as mãos com álcool em gel.

É o efeito Lula, sim.

No Palácio do Planalto, a conversa corrente é que o jogo sucessório está desenhado e não mudará a textura, salvo uma nova interferência da Suprema Corte brasileira. Será Bolsonaro versus Lula. Os palacianos entendem que o ex-juiz Sérgio Moro, embora no momento com boa avaliação nas pesquisas de opinião pública, está fora do jogo, e a postulação do global Luciano Huck não passa de piada. As demais figurinhas servem apenas para enfeitar o quadro, como Ciro Gomes (PDT), João Doria (PSDB) e Marina Silva (REDE), João Amoedo (Novo)...

Daí, o entendimento de que Bolsonaro não pode errar mais e que deve cuidar da estratégia e do ritmo do jogo eleitoral. Só que, com Lula em campo, qualquer que seja a estratégia, mesmo que bem pensada e executada, ela se posiciona no fio da navalha diante do reconhecido poder de persuasão que o ex-presidente tem junto à massa menos politizada, que é maioria.

Historicamente, o populismo e o personalismo tiveram presença central na política brasileira. Lula é o último líder de massa que este País já produziu. Não haverá outro, provavelmente. E o petista vive seu capítulo derradeiro na vida política, que ele deseja encerrar no topo do poder. É um apelo popular forte.

Pois bem.

Nos últimos dias, o mundo político fervilhou com a decisão de Fachin de anular as condenações de Lula na Operação Lava Jato e devolver, por gravidade, a sua elegibilidade. E deve seguir nesse clima pelos próximos dias, mas sairá da pauta em breve, porque o Brasil está tomado por uma crise sanitária, econômica e social sem precedentes, e nesse momento a sociedade não interessa comprar a candidatura de ninguém. As pessoas querem emprego, sobrevivência, a vacina contra a Covid-19. 

Só depois daí, a sucessão presidencial ganhará ritmo pra valer. Com uma certeza: quem sair melhor do cenário turvo, provavelmente terá maior chance de ser abraçado pela maioria do eleitor. Bolsonaro conta com a máquina para pavimentar o seu caminho; Lula tem a oratória para ganhar a narrativa eleitoral.

Quem se sairá melhor?

Por César Santos