terça-feira, 11 de agosto de 2020

Apodi, ontem e hoje: José Francisco de Oliveira, "Seu" Zé

 


TRAJETÓRIA DE VIDA DE JOSÉ FRANCISCO DE OLIVEIRA (Seu Zé) 

 

A história de uma vida não cabe no papel.  Mas podemos tentar. Para contar uma trajetória de vida, recorremos às memórias cheias de significado frente à oportunidade de viver de novo. O vivido acompanha os fatos reais da linha do tempo de quem conta, de quem narra e avança para uma vida acumulada de boas experiências, mas também desafiadoras.  

Recordar permite reviver acontecimentos e fatos, revisitar lugares e pessoas já tão distantes na memória. E é justamente dessas memórias que avançamos pela estrada do tempo para contar um pouco da trajetória de vida de José Francisco de Oliveira ou, como conhecemos, “Seu” Zé, quem em 2020, completou 80 anos de idade.


Para criar uma ponte entre o passado e o presente, “Seu” Zé se sentiu motivado a narrar um pouco da sua vida, para além de uma descrição linear de uma biografia. A sua história foi narrada oralmente por ele mesmo, que agora toma forma no papel.

 Ele começa com o seu nascimento. Nascido em 04 de agosto de 1940, no distrito de Pedra de Abelha, hoje, município de Felipe Guerra-RN, “Seu” Zé é filho de Francisco Apolinário de Oliveira e Maria Petronila de Oliveira. Com a morte da mãe, quando tinha um ano de idade, foi adotado pelo tio o sr. Pedro Augustino e D. Aureliana (Lelé) que desde então, o criaram como filho.


Logo cedo, o trabalho na agricultura foi sua labuta diária.  O trabalho braçal no corte de palha e na lavoura, o distanciou prematuramente da escola formal, enquanto o formou na escola da vida. Foi na escola da vida que ganhou e aperfeiçoou habilidades. Tanto que, quando rapaz, começa a trabalhar com Antonio Casado que, na época, inovou o trabalho do corte de palha com uma máquina que além do corte, extraía o pó da palha de carnaúba, convidando “Seu” Zé a operar o maquinário.

Com o passar do tempo, Antonio Casado mudou-se para Apodi e resolveu trazer o seu funcionário de confiança para a várzea de Apodi, onde comprou um caminhão e entregou a “Seu” Zé e Mundinho, filho do patrão, onde faziam a colheita de pó de carnaúba em toda região. Foi justamente nesse período que aprendeu a dirigir. Na época, um ofício para poucos.


Com o fim desse trabalho, já morando no Poço de Tilon, comunidade rural de Apodi-RN, trouxe com ele a aprendizagem do novo ofício de Motorista. De imediato, pensou em fazer a carteira na cidade de Natal, sendo orientado por Olavo Raposinha que o considerava um excelente motorista. Assim que retornou de Natal, já com a carteira de motorista, foi direto para as Salinas à procura de emprego, onde passou 02 anos trabalhando de motorista de caçamba no transporte de sal. 


Nesse período de transição entre o trabalho na agricultura, o corte de palha e o oficio de motorista, casa-se. Em 1962, casou-se com Maria Joana de Freitas, D. Bia como é mais conhecida. Dessa união de 58 anos, tiveram dez filhos, sete homens e três mulheres, sendo dois já falecidos. Quanto aos netos, atualmente, são 20 e 02 bisnetos. Durante muitos anos viveu no Poço Tilon, comunidade de origem da família de sua esposa. Alias, é uma comunidade que ainda hoje mantem laços familiares e de forte pertencimento a esse lugar.

Quando ainda morava nessa comunidade, foi convidado por Altino Dias a trabalhar como motorista transportando cal para as cidades de Cajazeiras e Sousa, estado da Paraíba. Por volta de 1973, Altino impôs que trouxesse sua família para Apodi e, assim atendeu ao Patrão. Sua primeira moradia foi rua Padre Benedito Alves, que só saiu de lá quando mudou-se para sua casa própria na Benjamin Constant.

Depois de trabalhar por muitos anos com Altino, foi trabalhar para Totó Bruaca, tornando-se compadres e amigos durante anos, cuja amizade estende-se até hoje aos familiares.


Por volta de 1977, retorna ao trabalho nas Salinas, onde foi acometido de uma doença, a Tuberculose, passando 90 dias internado na cidade de Mossoró-RN. Já recuperado, decidiu vender alguns bens adquiridos e empregar no comércio de frutas. Durante anos sustentou uma grande família vendendo frutas dentro do mercado público de Apodi e a esposa vendendo confecções, ambos mostrando um grande tino para o comércio. O comércio na banca de frutas e de roupas reuniu os filhos, sobrinhos e quem mais chegasse em sua casa.


Apesar da recessão econômica do período, tiveram sucesso no comercio, melhorando a condição de vida da família, o que permitiu acolher em sua casa, sempre muita gente, que vinha estudar e/ou trabalhar na casa dos tios Zé e Bia.  Com condições econômicas mais favoráveis que de outros familiares, permitiu esse ambiente de casa sempre cheia, acompanhando a sua vida em família. Uma frase comum dita por “Seu” Zé ou D. Bia é: “Daqui de casa, só saia quando casava”.


 Na década de 1980, retoma o trabalho de motorista. Em 1981 foi convidado pelo Prefeito Valdemiro Pedro Viana a dirigir o ônibus, recém comprado pela prefeitura de Apodi. Enquanto trabalhava na Prefeitura Municipal de Apodi, D. Bia e os filhos dedicavam-se ao comércio de confecções e frutas. É nesse mesmo período, que se destaca como um grande apoiador do esporte amador de Apodi, chegando a ser presidente do Santos de Apodi. Uma jovem equipe de futebol que fez história no município nos anos 1980, chegando a participar do campeonato Matutão, formada por equipes de interior do RN.


Mas foi a sua vida dedicada à condução de estudantes universitários de Apodi a Mossoró, durante 28 anos, que marcou a sua trajetória de vida e de profissão. A sua trajetória se confunde com a trajetória pessoal e profissional de tantas outras vidas por gerações: quando conduziu um jovem ou uma jovem, certamente, conduziu o filho ou filha destes e, quiçá, neto ou neta. Das muitas lembranças desse período, recorda a comemoração do seu aniversário no ônibus pelos universitários realizada todo ano. Aliás, era uma tradição entre as festas dos universitários. Quando se aposentou em 2012, marcou uma geração de jovens universitários apodienses, cujo percurso até a universidade também se aprendia.


Desse tempo, lhe reserva muitas histórias, lembranças e grandes amizades. Do ambiente social do ônibus lhe rendeu o seu melhor livro: o livro da vida que volta e se renova.