TRAJETÓRIA
DE VIDA DE JOSÉ FRANCISCO DE OLIVEIRA (Seu Zé)
A história de uma vida não cabe no papel. Mas podemos tentar. Para contar uma
trajetória de vida, recorremos às memórias cheias de significado frente à
oportunidade de viver de novo. O vivido acompanha os
fatos reais da linha do tempo de quem conta, de quem narra e avança para uma vida
acumulada de boas experiências, mas também desafiadoras.
Recordar
permite reviver acontecimentos e fatos, revisitar lugares e pessoas já tão
distantes na memória. E é justamente dessas memórias que avançamos pela estrada
do tempo para contar um pouco da trajetória de vida de José Francisco de Oliveira ou, como conhecemos, “Seu” Zé, quem em 2020, completou 80 anos
de idade.
Para criar uma ponte entre o passado e o presente, “Seu” Zé
se sentiu motivado a narrar um pouco da sua vida, para além de uma descrição
linear de uma biografia. A sua história foi narrada oralmente por ele mesmo,
que agora toma forma no papel.
Ele começa com o seu
nascimento. Nascido em 04
de agosto de 1940, no distrito de Pedra de Abelha, hoje, município de Felipe
Guerra-RN, “Seu” Zé é filho de Francisco Apolinário de Oliveira e Maria Petronila de
Oliveira. Com a morte da mãe, quando tinha um ano de idade, foi adotado
pelo tio o sr. Pedro Augustino e D. Aureliana (Lelé) que desde então, o criaram
como filho.
Logo cedo, o trabalho na agricultura foi sua labuta diária. O trabalho braçal no corte de palha e na lavoura,
o distanciou prematuramente da escola formal, enquanto o formou na escola da
vida. Foi na escola da vida que ganhou e aperfeiçoou habilidades. Tanto que, quando
rapaz, começa a trabalhar com Antonio Casado que, na época, inovou o trabalho do corte de palha
com uma máquina
que além do corte, extraía o pó
da palha de carnaúba, convidando “Seu” Zé a operar o maquinário.
Com o passar do tempo, Antonio Casado mudou-se para Apodi e resolveu trazer o seu
funcionário de confiança para a várzea de Apodi, onde comprou um caminhão e entregou a “Seu” Zé e Mundinho,
filho do patrão, onde faziam a colheita de pó de carnaúba em toda região. Foi justamente
nesse período que aprendeu a dirigir. Na época, um ofício para poucos.
Com o fim desse trabalho, já morando no Poço de Tilon,
comunidade rural de Apodi-RN, trouxe com ele a aprendizagem do novo ofício de
Motorista. De imediato, pensou em fazer a carteira na cidade de Natal, sendo
orientado por Olavo Raposinha que o considerava um excelente motorista. Assim
que retornou de Natal, já com a carteira de motorista, foi direto para as
Salinas à procura de emprego, onde passou 02 anos trabalhando de motorista de
caçamba no transporte de sal.
Nesse
período de transição entre o trabalho na agricultura, o corte de palha e o
oficio de motorista, casa-se. Em
1962, casou-se com Maria Joana de Freitas, D. Bia como é mais conhecida. Dessa
união de 58 anos, tiveram dez filhos, sete homens e três mulheres, sendo dois
já falecidos. Quanto aos netos, atualmente, são 20 e 02 bisnetos. Durante
muitos anos viveu no Poço Tilon, comunidade de origem da família de sua esposa.
Alias, é uma comunidade que ainda hoje mantem laços familiares e de forte
pertencimento a esse lugar.
Quando ainda morava nessa comunidade, foi convidado por Altino
Dias a trabalhar
como motorista transportando
cal para as cidades de Cajazeiras e Sousa, estado da Paraíba. Por volta de 1973,
Altino impôs que trouxesse sua família para Apodi
e, assim atendeu ao Patrão. Sua primeira moradia foi rua Padre Benedito Alves, que
só saiu de lá quando mudou-se para sua casa própria na Benjamin Constant.
Depois de trabalhar por muitos anos com Altino, foi trabalhar para Totó Bruaca, tornando-se
compadres e amigos durante anos, cuja amizade estende-se até hoje aos
familiares.
Por volta de 1977, retorna ao trabalho nas Salinas, onde foi
acometido de uma doença, a Tuberculose, passando 90 dias internado na cidade de Mossoró-RN. Já
recuperado, decidiu vender alguns bens adquiridos e empregar no comércio de
frutas. Durante anos sustentou uma grande família vendendo frutas dentro do
mercado público de Apodi e a esposa vendendo confecções, ambos mostrando um
grande tino para o comércio. O comércio na banca de frutas e de roupas reuniu
os filhos, sobrinhos e quem mais chegasse em sua casa.
Apesar da recessão econômica do período, tiveram sucesso no
comercio, melhorando a condição de vida da família, o que permitiu acolher em
sua casa, sempre muita gente, que vinha estudar e/ou trabalhar na casa dos tios
Zé e Bia. Com condições econômicas mais
favoráveis que de outros familiares, permitiu esse ambiente de casa sempre cheia,
acompanhando a sua vida em família. Uma frase comum dita por “Seu” Zé ou D. Bia
é: “Daqui de casa, só saia quando casava”.
Na década de 1980, retoma o
trabalho de motorista. Em 1981 foi
convidado pelo Prefeito Valdemiro Pedro Viana a dirigir o ônibus, recém comprado pela
prefeitura de Apodi. Enquanto trabalhava na Prefeitura Municipal de Apodi, D.
Bia e os filhos dedicavam-se ao comércio de confecções e frutas. É nesse mesmo
período, que se destaca como um grande apoiador do esporte amador de Apodi, chegando
a ser presidente do Santos de Apodi. Uma jovem equipe de futebol que fez
história no município nos anos 1980, chegando a participar do campeonato Matutão, formada por equipes
de interior do RN.
Mas foi a sua vida dedicada à condução de estudantes universitários
de Apodi a Mossoró, durante 28 anos, que marcou a sua trajetória de vida e de
profissão. A sua trajetória se confunde com a trajetória pessoal e profissional
de tantas outras vidas por gerações: quando conduziu um jovem ou uma jovem,
certamente, conduziu o filho ou filha destes e, quiçá, neto ou neta. Das muitas
lembranças desse período, recorda a comemoração do seu aniversário no ônibus pelos
universitários realizada todo ano. Aliás, era uma tradição entre as festas dos
universitários. Quando se aposentou em 2012, marcou uma geração de jovens
universitários apodienses, cujo percurso até a universidade também se aprendia.
Desse tempo, lhe reserva muitas histórias, lembranças e grandes
amizades. Do ambiente social do ônibus lhe rendeu o seu melhor livro: o livro
da vida que
volta e se renova.